quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Amizades...

Ouvindo: Is It Really So Strange? - Smiths


Certo dia meu telefone tocou.. era um amigo de longa data ( ponha- se longa data nisso). Estudamos juntos e ainda lembro tínhamos a mania de querer disputar em tudo. Quem era melhor no futebol ou coisas afins que os moleques em geral fazem entre si. Cheio de cobranças, veio logo falando que eu era um desnaturado, que não considerava mais os amigos e etc... etc..., que eu deveria encontrá-los para tomar uma cerveja, que era irrecusável e eu não poderia fugir.
Bem, fugir não era mesmo o termo mas, eu também não iria, ficou o dito pelo não dito e ainda a data da bendita cerveja paira no ar (que fique por muito tempo).
Há mais de 10 anos ele era meu amigo e sempre foi daquele tipo que adorava tirar vantagem em tudo, era magro e chato ( não que eu não fosse..), mas sua chatice era insuportavelmente temperada com um falso ar de superioridade. ( gente eu andei com cada coisa). Hoje em dia é um cara que é mais alto do que eu, que fala muito mais alto do que eu, gesticula feito um louco e ainda por cima está com aquela protuberância que os machos exibem após anos de cervejadas depois da pelada num campo de terra, religiosamente aos domingos.
Talvez muita coisa tenha mudado desde que saímos da escola, ao invés de me aventurar em uma grande rede de fast food, como primeiro trabalho, esperei amargamente um ano inteiro pra me jogar no mercado de trabalho, enfim não era tudo o que eu esperava de um emprego, mas era o que eu tinha. Aí que as coisas começaram a mudar, novas pessoas novas conversas e delicadamente começou aquilo que eu gentilmente chamo de " outra vida". Perdi muitas das gírias da escola pq se vc fala gíria perto de um advogado ele é capaz de dar com o CPC ( leia- se Código de Processo Civil), na sua cabeça. Larguei mão das roupas folgadas e dos tênis cheios de cores pra me enfiar dentro de um terno de grife, bem cortado e sapatos com solado de couro. Deixei pra trás o português arrastado por muitos erros de gramática e concordância, pra redigir impecáveis petições as quais muitas vezes fui pessoalmente protocolar nos Foros e Tribunais da minha cidade. Enquanto isso meu "amigo da escola" trabalhava num fast food com pessoas quase 7 anos mais novas que ele, tendo conversas muito produtivas quanto a uma fralda usada de um bebê. Saía to da sexta, sábado e domingo, dando vazões as sua fantasias sexuais as quais sempre terminavam com uma história pra se contar aos amigos na mesa de um bar, como as mulheres são umas vadias e que elas gostam mesmo é de dar. Nesse entremeio eu ainda ralava pra caralho, andava num sol maldito pra entregar processos e ainda por cima tentar levar uma conversa de nível com uma pessoa, digamos 25 anos mais velha que eu. Aprendi muita coisa como me vestir bem, aprendi a reconhecer um bom vinho, não aquele purgante barato que tomava quando tinha 15 anos numa esquina qualquer perto da minha casa. Tive várias experiências que me fizeram ser um pouco mais daquilo que eu costumava a ser naquele tempo, e do que eu esperava ser.

ESTRANHOS EX- AMIGOS

O que me deixa pasmo é que depois de tudo isso ainda tive tempo de correr atrás de alguma coisa que eu gostava de fazer, deixei um emprego ao qual eu não tinha muita credibilidade e fui pra uma grande empresa, onde aprendi o ofício que me abriu portas que só um ótimo salário pode oferecer, conheci coisas que ainda não estão tão acessíveis ás pessoas de raciocínio não tão grande assim. Conheci lugares aos quais não fazia ideia que poderiam existir. Expandi meu horizontes e não fiquei condenado á uma vida que não poderia sair, a não ser que quebrasse as correntes do maior mau das pessoas: A RESISTÊNCIA, essa mesma que faz com que vc não ouça nada além de pagode ou black pq afinal de contas isso são músicas de preto. Aquela que me diz que eu tenho que ficar amar e me casar com uma mulher que seja da minha raça pq eu ainda vou ser otário das branquinhas. Resistência ou até medo de ter que falar na frente de 80 pessoas pra que elas saibam o que é o mercado de imóveis e até podem me achar esnobe por tentar expressar com palavras não tão usadas na linguagem popular.
Deixei várias coisas pra trás pq a vida da gente segue em frente e não posso simplesmente ficar esperando ou viver o que for sendo. Ter uma atitude foi o mínimo que eu pude fazer pra tentar ser o que sou hj.
Talvez eu não goste de futebol, pq hj meu "time" vive de escândalo em escândalo ou simplesmente perdi a mágica da coisa desde o campeonato paulista de 93, e não tenho coragem de largar minha catequese e minha missa pra ficar correndo atrás de uma bola com mais outros caras que mais tarde estarão sujos fedendo e tremendamente bêbados. Não ouso sair com uma mulher ( mesmo pq sou compromissado, na verdade, estou casado só não me dei conta disso ainda, ou finjo que nada está acontecendo) pra mais tarde numa noite de um sábado qualquer contar quantas vezes eu fiz meu papel de macho troglodita, aquele que monta em cima fala um monte de besteiras, goza, dá um tapa na bunda da parceira e vira pro lado pra dormir, muitas vezes deixando prazer da coitada pra próxima vez, se houver.
Tenho muita saudade daquele tempo em que competia pra saber quem era mais esperto, ou simplesmente tentar ter um ar mais esnobe que meu amigo. Tenho muitas saudades daquele amigo, imensamente mais saudade de mim que julgava menos e era muito mais feliz.